Proton processa a Apple e chama o monopólio da App Store de uma ameaça à privacidade e à democracia

A empresa de software com foco na privacidade Proton entrou com um grande processo antitruste contra a Apple na Califórnia, acusando a gigante da tecnologia de administrar um monopólio ilegal sobre distribuição de aplicativos e pagamentos no iOS. A Proton, conhecida por seus serviços seguros como Proton Mail, ProtonVPN e Proton Drive, diz que as regras da Apple prejudicam desenvolvedores e consumidores, ao mesmo tempo que sufocam a inovação e limitam alternativas focadas na privacidade.

A reclamação de 73 páginas, apresentada no Distrito Norte da Califórnia, afirma que a Apple força todos os desenvolvedores iOS a usar sua App Store para distribuição e seu próprio sistema de pagamento, que cobra até 30% em taxas. Proton argumenta que esses requisitos não deixam aos desenvolvedores outra escolha a não ser aceitar os termos da Apple se quiserem acesso aos usuários de iPhone e iPad. De acordo com Proton, as comissões da Apple funcionam como uma “tarifa artificial” no comércio pela Internet, aumentando os custos tanto para os desenvolvedores quanto para os usuários finais.

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O processo da Proton não envolve apenas taxas. Também aponta para o controle mais amplo da Apple sobre o que os aplicativos podem fazer e como interagem com os clientes. A empresa destaca exemplos em que a Apple bloqueou atualizações ou recursos limitados, como a tentativa do Proton VPN de informar os usuários sobre como contornar a censura. Proton argumenta que o controle rígido da Apple torna mais fácil para regimes autoritários exigirem a remoção de aplicativos, citando incidentes na Rússia e na China onde VPNs e ferramentas de privacidade desapareceram da App Store.

O caso se soma à crescente lista de batalhas legais da Apple em todo o mundo. Nos EUA, a Apple já enfrenta um grande processo antitruste do Departamento de Justiça e de vários procuradores-gerais estaduais, acusando-a de monopolizar o mercado de smartphones. Entretanto, na Europa, os reguladores multaram a Apple em 1,94 mil milhões de dólares por abuso da sua posição dominante. Outras investigações estão em andamento na Coreia do Sul, no Reino Unido, na França, na Alemanha e na Índia.

O pedido da Proton se junta a uma ação coletiva existente liderada por um grupo de desenvolvedores coreanos, mas a Proton também apresentou sua própria reclamação para garantir que qualquer acordo futuro não resulte no que chama de “mudanças cosméticas”. Em vez disso, a Proton está exigindo reformas estruturais profundas: permitir lojas de aplicativos rivais, apoiar processadores de pagamento alternativos e dar aos desenvolvedores mais controle sobre como eles se comunicam com os usuários e gerenciam as assinaturas.

Uma parte central do argumento da Proton é que o modelo de negócios da Apple favorece as grandes empresas que dependem da recolha de dados e das receitas publicitárias – o que a Proton chama de “capitalismo de vigilância” – ao mesmo tempo que penaliza os serviços baseados em assinaturas e que priorizam a privacidade. Proton diz que, ao forçar os desenvolvedores focados na privacidade a pagar altas comissões nas assinaturas, a Apple efetivamente desencoraja modelos de negócios que evitam a venda de dados do usuário.

A Proton também destaca a falta de escolha para os usuários dos EUA em comparação com a Europa, onde a Apple abriu recentemente o iOS para lojas de aplicativos alternativas sob pressão regulatória. Nos EUA, a Apple continua a bloquear lojas de aplicativos rivais e a restringir fortemente métodos de pagamento alternativos, embora um juiz tenha ordenado anteriormente que os desenvolvedores informassem os usuários sobre opções de pagamento externas. A reclamação da Proton sugere que as recentes permissões de “direção” da Apple são em sua maioria simbólicas e não conseguem criar concorrência real.

O processo descreve a abordagem da Apple como uma estratégia deliberada para prender os usuários por meio da dependência do ecossistema de serviços como iCloud e aplicativos padrão, tornando a mudança cara e difícil para os clientes. Ele também argumenta que a Apple aplica suas restrições de maneira inconsistente: por exemplo, o WeChat na China opera seus próprios miniprogramas e o macOS permite aplicativos de múltiplas fontes, provando que as políticas rígidas da Apple para iOS são uma escolha, não uma necessidade.

A Proton está pedindo ao tribunal uma liminar para abrir o iOS a lojas de aplicativos e plataformas de pagamento concorrentes, bem como danos monetários que a empresa afirma que doará a organizações que apoiam a democracia e os direitos humanos por meio da Fundação Proton.

(atravésPróton)